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ELTON MELLO ESTEVAM analisa obra literária de Victorio Codo

Breve análise da obra

“Da Montanha ao Pantanal”

Elton Mello Estevam (*)


De leitura suave e instigante, o livro de Victorio Codo evita cantilenas obsoletas e digressões inoportunas, transportando o leitor a uma atmosfera de intimidade com o autor, mesmo aqueles que não o conhecem. Além do mais, são verdadeiras aulas de geografia, biologia, cultura geral e, por que não, filosofia. Sim, a obra apresenta-se indiretamente filosófica no sentido de que instiga o leitor a uma reflexão sobre a sua condição e a dos demais ditos civilizados. Com efeito, a agradável leitura de mais essa bela produção literária, enveredando-se pela cultura indígena e cabocla, nos convida a refletir sobre os nossos próprios hábitos e costumes que, vistos sob a ótica do controle social, ilusoriamente nos afiguram os únicos possíveis.

No tocante à estrutura da obra, percebe-se que é produto de um escritor experiente e arguto, de espírito vivo, engenhoso, talentoso, perspicaz, sutil, que não se contenta com a simples narrativa do fato. Procura, antes, explicar as causas dos fenômenos relatados, sem, contudo, cair na amargura tediosa que abarcam muitas pesquisas que se tornam extensas demais. Destarte, o autor é breve e agradável nas suas explicações científicas e/ou históricas, enriquecendo ainda mais a obra, que transcende à narrativa casual. Parece-me, outrossim, que ele assimilou bem a lição de Graciliano Ramos: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.

Os fatos relatados são de singular curiosidade. Curiosidade esta que prende o leitor do início ao fim do livro, em um original e real suspense que não o permite levantar para ir pegar um copo d’água, sem antes completar a leitura do capítulo! De resto, com o término da leitura de “Da Montanha ao Pantanal” fica aquele gostinho na alma satisfeita, que só irá se dissipar ao sabor do vento e das horas...


(*) ELTON MELLO ESTEVAM é ubaense, 19 anos, universitário. É autor de Don Juan e o oráculo de Zeus, obra de ficção mitológica, realismo fantástico, em prosa, com comentário de Marum Alexander e Cláudio Estevam. Em Antologia, seu segundo livro, também edição do autor, Elton brinda o leitor com seus contos e textos filosóficos, que induzem a reflexão sobre o tema Ideologia. O jovem escritor tem diversos trabalhos, em prosa e em verso, publicados na internet e em periódicos locais. Interrompeu a produção do seu terceiro livro, Guia Pessoal Conhecimento do Mundo. Sobre Deus e o Diabo (teatro), que seria o quarto livro do autor, encontra-se em preparação.
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O texto acima foi lido na sessão solene da Aule de 01/12/2006, de lançamento do outro livro de Victorio Codo: A Odisséia da Família Napolitani Codo. O intérprete foi o talentoso garoto, estudante Francisco Brandão Teixeira do Rego.


terça-feira, 6 de abril de 2010

POR QUE PREFÁCIO?

POR QUE PREFÁCIO?

Antonio Carlos Estevam

(singela homenagem do autor ao site do qual participa: www.prefacio.net)

Linguagem, faculdade humana
De expressão do pensamento;
Língua, maneira de expressão
Comum a um grupo social.
Pela palavra o indivíduo
Se serve da linguagem
E dentro dele se produzem
As variações de sentido numa frase.

Enquanto modo individual,
Uma circunstância de sentido
Na frase interessa à palavra,
Mas se uma alteração introduzida
Recebe consagração do uso,
Que a incorpore ao patrimônio comum
De um grupo considerável,
Ela passa ao campo
De interesse da língua.

A língua, um estado particular,
É da palavra a cristalização.
"Desta última o uso da palavra é árbitro" -
Eis o que, em Arte Poética
Já dizia Horácio.

Renascerão palavras outrora perecidas,
Cairão outras, hoje em moda.
Um homem não muda uma língua,
Mas um povo a transmuda
Na evolução das palavras
Sempre tocadas de um inquieto
Dinamismo transformista.

Necessidade de expressão,
Ponto de vista pessoal,
Emoção individual, tudo isso
Gera a força que cria a palavra nova
Ou o sentido novo
Para uma palavra antiga.

A língua é o rebanho
De que as palavras são ovelhas.
Estarão elas nele,
Mas nem sempre gostarão
Do arrebanhamento.

Palavra é um composto de alma e corpo
Na simbiose do vocábulo e do termo.
O vocábulo é o corpo, o termo é a alma;
O vocábulo é a concreção física,
O termo a forma espiritual, o sentido;
O vocábulo é continente,
O termo é conteúdo.

O vocábulo, corpo fugaz
Sopro que o vento logo dissipa,
Ele leva, de quem fala
A quem ouve, o termo.
Este último é alma que persiste,
Semente que fica,
Germina e floresce
Na gleba macia da emoção,
Na terra fértil da vontade.
Isto, conquanto ele, o termo,
Na intenção de quem fala
Tenha sempre notas subjetivas,
Matizes que o vocábulo não traduz.
E mais: na recepção de quem ouve
Entram notas,
Resíduos de outras compreensões,
Que o ouvinte acresce
E mistura ao termo recebido.

Não há, pois,
Medida comum nem coincidência
Entre o vocábulo e o termo
No comércio das idéias.

Se alguém sob a influência
E alimentação intelectual
Do meio ambiente,
Recebe uma idéia
Não necessariamente informada
E corada com os tons
Em que fora transmitida,
Também assim quando a repassar
Já lhe aditará alguma coisa de seu,
Que nem sempre
Logrará chegar ao interlocutor.

Está - fatos assim o demonstram -
Na fatalidade da limitação terrena,
Que a palavra seja um veículo
Falho e coxo.

A palavra nunca é
Só figura de retórica,
Ainda que o seja
Na intenção de quem fala,
Aquele desabafo que lamenta
"a falta de expressões
para dizer o que vai n'alma".

Quantas vezes,
entre a boca e ouvido,
A palavra muda de alma
E de sentido
Tanto que produz efeito
Diverso do que buscava!
Daí os desentendidos humanos.

Descompassos
Entre o termo e o vocábulo
Geram as incompreensões,
As subcompreensões,
As compreensões de menos,
As compreensões de mais.
A palavra disse pouco
Ou disse muito:
Foi de menos
Ou foi de mais, quando,
De intenção,
Oferecia o justo necessário.

Quão infinitamente
Seriam reduzidas as guerras,
Ah, se medida tivessem as palavras,
Bem assim nitidez de conteúdo
E limite.

Com razão dizia Voltaire,
Com aquela malícia
Que Deus lhe deu
E que o Diabo lhe temperou:
"Se comigo deseja discutir,
as suas palavras primeiro defina".

Se nesta altura já indaga o leitor:
Mas, o que tudo isto teria a ver com Prefácio,
Com "Por que Prefácio?",
Eis, doravante a resposta.

Se na expressão de Latino Coelho,
"A história do globo é o preâmbulo à
Crônica do homem"...
Se prólogo é o discurso
Que antecede uma obra escrita.
Se - voltando ao Sábio Lusitano -
"A geologia é o prólogo da humanidade".

Se prefação é
"a ação de falar antecipadamente";
Se prolegômeno é
"exposição preliminar
Dos princípios gerais
De qualquer ciência ou arte";
Se intróito é entrada,
Princípio, começo;
Se introdução é cabimento;
Se exórdio é a maneira
Como uma coisa é começada
Ou inaugurada;
Se prolóquio é máxima,
Adágio,
Sentença dito ou provérbio...
Por que Prefácio?

Porque Prefácio
Contém em resumo,
Sumariza,
Fala antecipadamente,
Expõe preliminarmente,
Traz os princípios gerais,
É introdução,
Inaugura.

Prefácio condensa,
Recopila,
Abrevia;
Epílogo
Reduz,
Condensa,
Concentra.

Prefácio
- ora, amigos prefacianos -
Simboliza em ponto pequeno,
Representa,
Faz consistir,
CONSUBSTANCIA
O IDEAL DE CLÉSIO SILVA,
O acervo a cada dia crescente
Dos tantos poetas independentes,
Dos que se comunicam
Pela linguagem escrita,
Pela língua,
Pela palavra.
Dos que cultuam,
Dos que cultivam
A doce Arte
Cujo assunto
Aqui se fez prefácio
Para que chegássemos
Enfim a responder
"Por que Prefácio?"

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